Sites do Brasil

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Direito, os menores e um mundo que se transforma


O Direito regula a vida em sociedade. Há fatos que ficam na esfera privada de cada um. Outros são cerceados por regras administrativas, porque assim recomenda a vida em grupos. Os mais graves são elevados à condição de crimes e punidos mais severamente. É o caso do furto ou das lesões corporais. Finalmente, alguns não são reprimidos, mas podem ensejar uma reparação civil, um pagamento a título de indenização.

Na vida em sociedade quase tudo vem a ser objeto de um contrato. Se pago R$ 3 por um jornal, estou consumando um ajuste verbal com o vendedor. Mas se compro um imóvel, o legislador exige, para segurança das partes, que ele seja feito por escritura pública. Nem tudo, porém, pode ser contratado. O objeto pactuado, na antiga lição de Washington de Barros Monteiro, deve ser lícito, “isto é, conforme à moral, à ordem pública e aos bons costumes” (Curso de Direito Civil, 5º volume, página 7).
Até aí o tema não revela maior complexidade. No entanto, o mundo ─ e o Brasil também ─ passa por uma transformação radical e a uma velocidade nunca antes sequer imaginada. Os valores se transformam, práticas centenárias são abolidas, os mais jovens surpreendem com suas ações.
O filme francês Polissia, da diretora Maiwenn, retrata a rotina de uma delegacia de polícia de proteção a menores em Paris. Ali estão exibidos fatos reais, conflito de culturas, taras e violências. Em uma das passagens, atendendo uma ocorrência de roubo praticado por uma gangue de menores contra uma menina de 14 anos, constatam os policiais que ela foi forçada a praticar sexo oral com os rapazes para que lhe fosse devolvido o celular. A jovem vítima conta, sem nenhum constrangimento, que assim procedeu porque o celular era moderno e bonito. O ato em si não lhe causa repugnância. É-lhe indiferente. O que vale é o celular.
Com menos charme e um pouco mais de idade, aos 14 de agosto, em Barueri (SP), uma jovem de 22 anos, que se achava em uma casa noturna, também vítima do furto de um celular, concordou em fazer sexo com 5 homens, embaixo de um viaduto, para recuperar seu telefone
Notícias semelhantes se sucedem. No dia 28 de setembro passado, noticiou-se que “jovens que postaram vídeo de sexo com adolescente na internet devem ser indiciados”. O caso ocorreu em Santa Luzia (MG), onde foram filmadas cenas de sexo praticadas por 4 jovens com uma adolescente de 15 anos. O pai disse que a filha estava drogada. A delegada, que poderia ter ocorrido estupro
Alguns pais também dão sua colaboração para que as coisas piorem. A psicóloga Rosely Sayão, em artigo denominado Miniatura de Periguete, relata práticas que vêm se tornando comuns, como expor às crianças todas as mazelas do mundo adulto, antecipando-lhes a adolescência, vestindo-as como “periguetes”, levando-as às chamadas “baladinhas”, com DJ e pouca iluminação (Folha de S.Paulo de 23 de outubro de 2012).
Assim, na primeira infância, fase de inocência, brincadeiras e descoberta das coisas, vão elas, prematuramente, sendo introduzidas em um mundo de sexo e malícia. E o que é pior: sabidamente, crianças vestidas de forma sensual atraem pedófilos, os estimulam. Não por acaso, a cada dia tal tipo de ocorrência aumenta.
Em paralelo, crescem boa parte dos jovens sem ter quem lhes transmita valores, princípios, religião. O sucesso medido pelo poderio econômico os leva individualismo materialista. Os valores cívicos, sempre erroneamente confundidos com o período da ditadura militar, foram abandonados. Os desfiles de 7 de Setembro são melancólicos. Certamente seria menor a corrupção se maior fosse o amor pelo Brasil.
Nisto tudo, certamente a propaganda dá a sua colaboração. Quase todas têm o fácil apelo sexual, o que revela pouca criatividade. As que recomendam determinada marca de cerveja, sempre estão em um bar pleno de alegria, com rapazes próximos a mulheres apetitosas. A mensagem subliminar diz que a felicidade está no bar ─ e não no lar ─ e que cerveja rima com sexo.
Sem resistência da sociedade a este estado de coisas, reconhecida a transformação da família, que vai assumindo formas diversas e menos perenes, induzidas as crianças a anteciparem sua vida sexual, flexibilizadas ao extremo as regras morais, fácil é ver que estamos diante de uma nova realidade.
E os mais novos vão crescendo. Bombardeados por exemplos negativos, refugiados na internet, muitas vezes acessando o que há de pior sem que os pais saibam e exerçam o necessário controle. Entram na adolescência, nem sempre pelo melhor caminho. Não raramente têm depressão. Em casos extremos, entregam-se às drogas ou à prostituição, esta não mais um privilégio de moças pobres do interior.
Por vezes são aliciados para a prática de crimes. Como são inimputáveis até os 18 anos, podem cumprir missões orientadas por criminosos graduados. Talvez aí a explicação para, em outubro passado, 4 menores com 16 e 17 anos terem matado um policial civil em Santa Catarina, logo no estado com os mais baixos índices de criminalidade. Quanto tempo ficarão internados? Um ano? Dois?
E se assim são as coisas, resta saber qual o resultado disto tudo e se o Direito tem prestado algum tipo de auxílio na solução dos problemas. Algumas indagações devem ser feitas.
a) A prostituição de menores de 18 anos, prevista como crime no artigo 218-B do Código Penal, será resolvida com a prisão dos que as exploram e dos clientes que as procuram? Ou ela ficou incontrolável, por força da mudança de costumes, sendo o sexo no início da adolescência e sem compromisso considerado absolutamente normal?
b) A pedofilia tem aumentados nos últimos dez anos? Há estudos científicos a respeito? Há política pública para combatê-la? A sexualidade exposta a cada momento não está a interferir no inconsciente das pessoas, levando-as a romper seus freios inibitórios?
c) Nessa nova realidade, menores com 16 e 17 anos são realmente incapazes de compreender o caráter criminoso de seus atos e por isso inimputáveis, como afirma o artigo 27 do antigo Código Penal de 1940? Se são inimputáveis, é razoável que possam votar?
d) A regra de que um contrato lícito deve ser moralmente adequado e ajustado aos bons costumes, como deve ser interpretada atualmente? O que é imoral?
e) Neste mundo novo, o Direito deve ter uma aplicação diferente daquela vigente há poucos anos? Os magistrados mais velhos conhecem essa realidade?
Resumindo, qual o papel do Direito neste novo cenário? As soluções devem ficar por conta exclusiva da sociedade? Até onde o Estado deve interferir? O que pensa a maioria da população? Estas questões exigem discussões. Ignorá-las é a pior solução.

Por Vladimir Passos de Freitas (desembargador federal aposentado do TRF 4ª Região, onde foi presidente, e professor doutor de Direito Ambiental da PUC-PR).

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Dilma nomeia Teori Zavascki como ministro do STF

A presidente Dilma Rousseff nomeou nesta quinta-feira (1º) Teori Zavascki como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A confirmação do nome dele para a vaga deixada por Cezar Peluso no fim de agosto foi publicada em decreto no "Diário Oficial da União".

A nomeação ocorre após a aprovação, na última terça (30), do nome de Zavascki pelo Senado com 54 votos favoráveis e quatro contrários. Não houve abstenções. O magistrado do Superior Tribunal de Justiça (STJ) tinha sido indicado por Dilma, mas teve que ser aprovado pelo Congresso.

A posse de Zavascki ainda não tem data marcada oficialmente, mas deve ocorrer em 29 de novembro. Na quarta (31), o presidente do Supremo, ministro Carlos Ayres Britto, disse acreditar que a posse de Zavascki será depois de sua aposentadoria. Ayes Britto deixa o Supremo até o próximo dia 18 de novembro, quando completa 70 anos.

"Conversei com ele ontem [terça], apenas para cumprimentar. Claro que, se ele quiser fazer algo mais rápido, dá tempo de tomar posse na minha presidência. Mas acredito que vai esperar. [...] Todos nós, todos, recebemos a indicação com maior agrado, se é um nome que é unanimidade é o Teori. Grande figura. Estamos de braços abertos", disse Britto.

No próximo dia 22 de novembro, o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão, toma posse como novo presidente do tribunal.

Uma das questões levantadas quando da indicação de Zavascki era se ele poderia tomar posse a tempo de participar no julgamento do mensalão.

O regimento do STF autoriza a participação de ministro recém empossado em julgamento já em curso e após a leitura do relatório desde que ele se considere "esclarecido" sobre o caso. Durante a sabatina, porém, o ministro não deixou claro se aceitaria participar ou não.

Perfil


Teori Albino Zavascki, 64 anos, nasceu em Faxinal dos Guedes (SC), é mestre e doutor em direito processual civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É ministro do STJ desde maio de 2003.

Ele iniciou a carreira em direito em 1971, em Porto Alegre. Foi advogado concursado do Banco Central por sete anos, tendo passado também pela superintendência jurídica do Banco Meridional do Brasil na década de 80.

Zavascki presidiu o Tribunal Regional Federal da 4ª região (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) de 2001 a 2003 e também atuou como juiz do Tribunal Regional Eleitoral na década de 90. Atualmente, também é professor na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB).

Conhecido pelo perfil discreto e técnico, se especializou em direito tributário. Ex-advogado do Banco Central, Zavascki atua na Primeira Turma e na Primeira Seção do STJ, colegiados especializados em matérias de direito público. Entre as pautas julgadas pelo órgão estão ações judiciais ligadas a servidores públicos, improbidade administrativa e tributos.

PMSP acredita ser desnecessário uso de Exército


O comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, Roberval Ferreira França, disse nesta sexta-feira (2) ser contra o uso de tropas do Exército para combater a violência na região metropolitana. “Eu considero desnecessário. O estado de São Paulo tem hoje 100 mil policiais militares, tem 30 mil policiais civis, nós somos o maior contingente policial da América Latina, há um grande volume de investimentos em segurança pública no estado”, afirmou.
Ele participou nesta sexta de uma homenagem aos policiais que foram mortos enquanto trabalhavam, que reuniu os parentes das vítimas, políticos e colegas de farda. A missa, no Mausoléu da PM, no Cemitério do Araçá, perto da Avenida Paulista, também homenageou os policiais atacados durante a folga. No total, 89 PMs foram assassinados desde o começo do ano na Grande São Paulo.
Os ataques contra a polícia fazem parte de uma onda de violência. Em menos de um mês, jámorreram 151 pessoas na região metropolitana. É o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. O aumento da criminalidade provocou desentendimentos entre o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto.
Depois de quase uma semana de divergências, a presidente Dilma e o governador Geraldo Alckmin assumiram as negociações para um trabalho conjunto. O governo federal oferece: ajuda da Polícia Federal para investigar o crime organizado, vagas em presídios de segurança máxima como o de Mossoró, no Rio Grande do Norte, para tentar isolar os chefes das quadrilhas paulistas e uma parceria com a Receita Federal, para fiscalizar empresas e contas bancárias ligadas às quadrilhas.
“As equipes vão se reunir já a partir do início da próxima semana e vão estabelecer uma boa parceria em todas as áreas que possam ajudar. Eu tenho certeza que a população vai rapidamente ver bons benefícios, bons resultados desse trabalho em conjunto”, disse governador Geraldo Alckmin nesta sexta.
Em um primeiro momento, os dois governos descartam repetir em São Paulo a experiência do Rio de Janeiro, que instalou Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas.
Alckmin falou, durante inauguração de um santuário na Zona Sul de São Paulo, sobre a conversa com a presidente. “Nós conversamos duas vezes por telefone. Tanto as equipes do governo do estado, da Secretaria da Segurança Pública, da [Secretaria] da Administração Penitenciária, e do Ministério da Justiça vão na semana que vem estabelecer um conjunto de procedimentos nas várias áreas. Aí cabe às equipes técnicas verificarem quais as parcerias que podem ter mais eficácia”, afirmou.
O governador disse que a Operação Saturação continua. “Essas operações, elas vão continuar. O serviço de inteligência da polícia vai dizendo quais são as comunidades, quais são os locais onde há necessidade de ser feito”, afirmou.

Estatística
Desde agosto, uma facção que atua dentro e fora dos presídios ordenou que seus integrantes executassem policiais que matassem criminosos. Ao longo do ano, o governo do estado também registrou aumento no índice de crimes contra a vida (homicídios dolosos e latrocínios), conforme balanços da Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP).

O Ministério Público apura se policiais militares estão envolvidos em mortes: há suspeitas de que agentes da lei descontentes com as mortes dos colegas formaram grupos de extermínio e milícias para revidar os ataques contra criminosos.
Em entrevista ao G1 na noite de quarta-feira (31), o secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, afirmou que a situação é de "absoluto controle" no estado. Ele negou haver uma "guerra" entre policiais e traficantes. Desde o começo da semana a PM realiza operação em Paraisópolis, onde realizou prisões e apreendeu lista com supostos nomes de policiais marcados para morrer.
Segundo a PM, desde segunda-feira (29), a Operação Saturação na favela de Paraisópolis conseguiu prender 22 pessoas em flagrantes por diversos tipos de crimes, apreender 15 armas de fogo ilegais, 324 munições, mais de 24 kg de cocaína; outros 254 kg de maconha e 50 unidades de drogas sintéticas.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, na 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - Brasília/DF


Eu queria aqui dirigir primeiro o meu cumprimento a todos aqui presentes e em especial às crianças e aos adolescentes aqui presentes. Aos brasileiros e aos brasileirinhos, às brasileiras e às brasileirinhas que enchem esse auditório. Queria cumprimentar a nossa ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário; queria cumprimentar também a secretária Nacional de Promoção dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, Carmen Silveira de Oliveira. Cumprimentar a presidenta do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente, Miriam Maria José dos Santos. Mas eu queria saudar aqui as 27 delegações de todos os estados e do Distrito Federal. A cada um e a cada uma aqui presente. E dirigir um cumprimento a todos os representantes de cada um dos estados e às representantes, porque aqui, eu já vi que tem muita menina também.

Então eu dirijo a todos vocês um abraço especial. Cumprimento também os conselheiros e as conselheiras tutelares aqui presentes. Vou dirigir também um cumprimento especial aos conselheiros e conselheiras de direitos, aos militantes dos direitos da criança e do adolescente. Cumprimentar também os nossos jornalistas, os nossos fotógrafos, os nossos cinegrafistas que estão aqui trabalhando.
E vou dirigir também um cumprimento muito especial a Ana Carina, que me entregou a bandeira nacional. O meu abraço e um beijo a Ana Carina. Eu queria dizer para vocês que para mim é uma grande honra estar aqui presente nesta 9ª Conferência dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes. Eu estive nesta cerimônia na 8ª Conferência e de lá para cá, eu acredito que nós continuamos aprofundando o que temos de fazer numa conferência, que é dar direto a voz, dar direito ao processo decisório e dar sobretudo, garantia de participação às crianças, aos adolescente e a todos aqueles conselheiros e conselheiras, que, das mais diversas formas, asseguram a proteção da criança e do adolescente em nosso país.
Nós temos uma longa trajetória, que vem de anos passados, em que nós evoluímos muito para garantir os direitos da criança e dos adolescentes. Acho esta conferência um marco, porque poucos países do mundo têm um momento como este, um momento em que todos se reúnem para avaliar e propor. Avaliar o que foi feito e propor que nós continuemos no caminho que vai levar este país, de fato, a ser uma grande nação. Porque uma grande nação, ela deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e para seus adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto, é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são suas crianças e os seus adolescentes.
Eu acredito que esta conferência, em que está sendo discutido o Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes, é um momento muito importante, porque aqui nós vamos definir eixos, nós vamos definir diretrizes, e vamos definir os objetivos estratégicos para dar continuidade. Objetivos estratégicos esses que foram aprovados pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Nós sabemos disso, que o Brasil, durante muito tempo, conviveu com uma situação lamentável e terrível. Ser um país com tantas riquezas, formado por um povo tão solidário, mas que uma parte imensa da sua população estava afastada dos direitos, e, sobretudo, de se beneficiar dessas riquezas e de tudo que este país pode produzir.
Principalmente, nós sabemos, que milhões e milhões de crianças ficaram relegadas a um plano absolutamente impensável, sem cuidado, sem carinho e sem proteção do Estado, e também sem condições de viver com as suas famílias porque o país não protegia a sua população.
Nós mudamos isso, e viemos mudando de forma sistemática. Eu tenho orgulho de ter participado do governo do presidente Lula, que instituiu o Bolsa Família. O Bolsa Família que criou uma rede de proteção para as famílias mais pobres deste país e também para as suas crianças. O Bolsa Família, que exigia como contraprestação desse benefício - que era dever do Estado garantir para essas famílias -, exigia também que as crianças tivessem acesso à vacinação e avaliação de saúde e, ao mesmo tempo, estivessem matriculadas nos seus respectivos cursos, e que levou milhões de famílias no Brasil a saírem da miséria.
Eu também tenho orgulho de, agora, nesta segunda etapa, que é o meu governo, nós termos criado, dentro do Brasil Carinhoso, que é uma ampliação do Bolsa Familia e uma parte da nossa luta para acabar com a miséria extrema no nosso país, a garantia de que cada família que tiver uma criança de zero a seis anos vai ter uma renda mínima para cada um dos seus componentes, de seus familiares, uma renda mínimo de R$ 70,00.
Essa é uma política que vai garantir um processo muito importante, porque 2,8 milhões de crianças de zero a seis anos vão estar protegidas, porque os seus familiares vão estar protegidos. E a gente sabe que uma criança precisa que a família, a mãe, o pai, seus irmãos tenham uma certa condição mínima de vida para a criança ter condições de ser educada, ter condições de ter uma alimentação, e, sobretudo, que ela consiga manter essa família em torno dela, protegendo e acarinhando.
Eu queria dizer também para vocês que, quando a gente fala em oportunidade para criança e adolescente, a gente tem de falar em uma questão que é muito importante: nós sabemos que, hoje, as crianças de zero a seis anos, elas têm de ter uma proteção muito especial, porque o futuro de cada um de nós, de cada um dos nossos filhos, ele começa a ser garantido na mais tenra idade, é entre o zero e os dois anos que uma criança se forma. Por isso, é nessa hora que o estado brasileiro tem de olhar para essas crianças. E se a gente acha que este país tem de ser um país que todo mundo tem de ter igualdade de oportunidades é nessa hora que a prova tem de ser olhada e testada. A prova é a seguinte: a raiz da desigualdade está no início da vida. Uma criança que tem acesso a uma educação de qualidade, de zero a três anos, uma criança que tem estímulos adequados, que tem uma alimentação sadia, ela será um adulto com mais oportunidades.
Por isso, a política de creche do meu governo é uma política que tem por objetivo, é óbvio, garantir que a mãe possa ter um lugar para colocar seu filho e trabalhar com garantia e segurança. Mas é, sobretudo, uma política para a criança, para garantir que essa criança tenha acesso ao que há de melhor e mais moderno no que se refere a práticas de ensino e também de recreação, de acesso a livro, ela manipula desde pequenininha jogos, enfim, ela tem os mesmos estímulos que tem uma criança de família rica.
Por isso, é prioridade do meu governo creche. É por isso que no Brasil Carinhoso nós estamos dando mais recursos para as prefeituras para garantirem creche, professoras nessas creches e qualidade nessas creches. Além disso, uma questão fundamental, para crianças e adolescentes, é o fato que esse país precisa caminhar para a escola de tempo integral. Escola de tempo integral não é só para tirar os nossos jovens das ruas ou as nossas crianças da rua, é também para garantir ensino de padrão de primeiro mundo para os nossos jovens e as nossas crianças.
Nenhum país desenvolvido tem escola de período único, por isso, eu tenho muito orgulho de dizer que hoje são mais de 33 mil escolas de ensino fundamental e médio que têm dois turnos. E agora nós estamos caminhando – até o final de 2014 - para chegar a 60 mil escolas. O que eu acredito é que nós, além dos dois turnos, temos de estar e eu garanto para vocês que o governo, o meu governo vai estar atento para a qualidade dessa.educação nos dois turnos, porque não é só para a gente praticar esportes que tem dois turnos - é também -, para ter uma aula de teatro ou de artes – é também -, mas é, sobretudo, para ter reforço naquelas matérias em que a criança tem mais dificuldade. Porque nós temos de ter um país com jovens, adultos e crianças com grande nível de escolaridade, porque nós vamos disputar sim o que é a economia moderna, que é a economia do conhecimento, aquela que agrega valor, a internet, as tecnologias de informação. Este país vai ser um país desevolvido quando todas as crianças deste país e seus jovens tiverem acesso à educação de qualidade.
Eu queria dizer para vocês também que é muito importante o programa que nós desenvolvemos que foi o Viver sem Limites. O Viver sem Limites investe em transporte, em escolas que garantem acesso às pessoas com deficiência, aos adolescentes com deficiência, que eles possam desenvolver integralmente suas capacidades e suas possibilidades.
Nós estamos convencidos de que todos os benefícios de uma educação de qualidade são fundamentais para que esses jovens, esses adolescentes tenham acesso a uma vida plena, e tenham acesso às mesmas oportunidades.
Eu queria também falar a vocês sobre um programa que é muito importante, que é o programa Crack, é possível vencer. O programa Crack, é possível vencer trata de um grande problema que atinge a milhares de jovens no nosso país, e que nós não vamos resolver, como muito acham, só fazendo uma política de repressão.
Nós acreditamos que, nesta questão do crack, é fundamental combinar três ações: prevenir, explicar, criar programas nas escolas, criar uma parceria com as famílias, com a sociedade e com a comunidade para proteger e impedir, prevenindo que os nossos jovens e as nossas crianças tenham acesso a isso. A segunda é cuidar. Cuidar porque o jovem, o adolescente que foi vítima do crack, ele precisa de tratamento, ele precisa de proteção, e esse tratamento e essa proteção tem de ser dada a ele. Em terceiro lugar, obviamente, nós temos de controlar toda a questão criminosa do tráfico.
Finalmente, eu queria dizer para vocês que o governo tem consciência de que lugar de criança e adolescente é junto a sua família. Lugar de criança e adolescente é na creche e na escola. Lugar de criança e adolescente é em um ambiente seguro. Aqui falaram: “Na universidade”. É nas escolar técnicas, enfim, é na recreação, nos campos esportivos, é em todas as manifestações artísticas, é, sobretudo, em um ambiente seguro, em um ambiente livre da miséria, da fome, da violência e dos abusos.
Nós todos temos de ter compromisso com as crianças e os adolescentes, inclusive as próprias crianças e os próprios adolescentes que são agentes também nesse processo, que nós devemos respeitar a opinião, escutá-la e tratá-la com a dignidade que é necessária.
Por isso, eu lembro aqui um caso de uma conferência, que foi até uma conferência, se eu não me engano, da cultura, que ela ocorreu lá no Amazonas, e que tinha um participante que era um ribeirinho, de uma comunidade ribeirinha. E perguntado: “Para o que serve uma conferência?”, ele disse: “Uma conferência serve para conferir se está tudo nos conformes”. É uma frase que sintetiza o papel da conferência – ela confere se está tudo correto, e, ao mesmo tempo, ela propõe.
Eu queria dizer que a grande proposta nesta conferência é que nós aqui estamos porque temos um compromisso com o futuro e o presente deste país, que são as crianças e os adolescentes. Eu sei que é um compromisso de todos nós aqui presentes.
E eu queria, finalmente, informar a vocês que o governo brasileiro vai apoiar o nome do querido Wanderlino Nogueira Neto para o Comitê dos Direitos da Criança e do Adolescente das Nações Unidas. Com certeza, o Wanderlino, que está aqui na frente, dará a sua contribuição – mais uma, porque ele vem dando contribuições nessa área há muito tempo. Ele vai dar mais uma contribuição ao defender as crianças e os adolescentes do mundo nas Nações Unidas, em especial, as brasileiras.
Um abraço para você, Warderlino, e boa sorte.
E um abraço para vocês todos, e um beijo no coração de cada um e de cada uma.

Confira a íntegra do discurso da Presidente Dilma.

Batizada de 'Lei Carolina Dieckmann' proposta que tipifica crimes cibernéticos é aprovado no Senado

O plenário do Senado aprovou ontem projeto de lei que tipifica crimes cibernéticos. A proposta foi batizada de “Lei Carolina Dieckmann”. A atriz teve fotos de seu arquivo pessoal roubadas por hackers e divulgadas na internet. Atualmente não há legislação específica e os crimes nessa área são tratados como estelionato. O projeto ainda tem que ser votado pela Câmara dos Deputados.

Pela proposta, a invasão de “dispositivo informático”, conectado ou não à internet, mediante violação indevida de mecanismo de segurança, para obter, adulterar ou destruir dados e informações, instalar vulnerabilidades ou obter vantagens indevidas será punida com prisão de três meses a um ano, além de multa.

A mesma punição será aplicada a quem produz, distribui ou vende programas de computador capazes de permitir a invasão de dispositivo. Serão considerados agravantes os casos em que a ação resultar na obtenção de informação sigilosa, comunicação eletrônica privada, segredos comerciais ou industriais, controle remoto não autorizado do computador invadido, ou atingir os chefes dos Poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário. Nesses casos, a pena poderá chegar a três anos de prisão.

O projeto equipara cartões bancários, de débito e crédito, a documentos particulares, para punir falsificações e clonagens. Isso inclui não só computadores pessoais, mas também caixas eletrônicos e máquinas de passar cartão.

Tirar do ar dará punição

A proposta também atualiza o Código Penal ao incluir no rol de crimes a interrupção de serviço de informática, como a retirada do ar de páginas na internet. As penas serão aplicadas em dobro se o crime ocorrer durante situação de calamidade públicas. Hoje a legislação prevê só a interrupção de serviços telegráficos, telefônicos ou de utilidade pública.

— Hoje o sujeito tira do ar a página da Receita Federal e não é punido. O mesmo acontece se te mandam um e-mail falso do banco para pegar seus dados. Tudo isso está previsto no projeto — explicou o relator, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que é líder do governo no Senado.

Em um primeiro momento houve reação de senadores à votação dessa proposta, já que há um capítulo inteiro do anteprojeto de reforma do Código Penal, proposto por uma comissão de juristas, destinado a crimes cibernéticos.

A Febraban (Federação Brasileira de Bancos), no entanto, pediu celeridade na votação do projeto e esses senadores foram convencidos, com o argumento de que a reforma do Código Penal caminha a passos lentos e havia urgência no tema. A Câmara deve votar na semana que vem a proposta, que, se aprovada, seguirá para sanção da presidente Dilma Rousseff.


© Infoglobo

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Número de parlamentares é suficiente para votar fim da mordomia


A bola está com a Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara e a desculpa de falta de quórum para votar a proposta que acaba com o 14º e o 15º salários de deputados e senadores não serve mais. Mesmo em meio à ressaca das eleições e em véspera de feriado, 422 deputados estiveram oficialmente no plenário ontem, dos quais 53 são integrantes da CFT. Ou seja, o número de parlamentares presentes em Brasília é mais do que suficiente para votar hoje de manhã, às 10h, o projeto que acaba com os extras dos congressistas.

Para garantir o quórum mínimo de 17 presentes, o presidente da CFT, Antônio Andrade (PMDB-MG), entrou em contato com todos os 66 integrantes da comissão, incluindo os suplentes, para pedir que não faltem à sessão. O objetivo é evitar que se repita a cena ocorrida no último encontro, quando o líder do PSD, Guilherme Campos (SP), pediu a verificação de quórum ao ver que o tema dos salários extras seria votado, o que derrubou a reunião porque havia poucos parlamentares na sala.

Ao todo, 422 deputados registraram presença ontem no plenário da Câmara, dos quais 53 integram a Comissão de Finanças e Tributação: quórum mínimo da comissão é de 17 parlamentares (Iano Andrade/CB/DA Press)
Ao todo, 422 deputados registraram presença ontem no plenário da Câmara, dos quais 53 integram a Comissão de Finanças e Tributação: quórum mínimo da comissão é de 17 parlamentares


A pauta da comissão tem hoje 58 propostas a serem analisadas. Para a votação do projeto de decreto legislativo que acaba com a mordomia histórica, é preciso haver um requerimento de inversão de pauta para que ele figure no topo da lista, como fez na última reunião o relator, Afonso Florence (PT-BA). “Apresentarei de novo, se for necessário, para que votemos esse tema o quanto antes e viremos logo essa página na Câmara”, comenta o deputado.

Florence diz estar otimista quanto à presença dos colegas na comissão. “Não tem motivo para não dar quórum e tenho certeza de que vai ser votado e aprovado, seguir para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e chegar ao plenário ainda este ano”, destaca. O clima, porém, não tem sido favorável à aprovação célere da proposta na Câmara.

Nos bastidores, é cada vez maior a defesa de se deixar para o ano que vem a votação do projeto em plenário. A manobra garantiria mais duas parcelas do pagamento a deputados e senadores. “Já ouvi diretamente de líderes partidários que os esforços são para deixar o assunto só para fevereiro”, comenta um parlamentar. “Há grupos de senadores fazendo pressão para empurrar a votação aqui na Câmara para que eles lá também recebam mais dois extras e até representantes do baixo clero que insistem em não votar esse projeto nem em 2013”, relata outro.

Requerimento

O entendimento geral é de que cabe às lideranças dos partidos que defendem o projeto a pressão para que o tema seja votado logo pelas comissões ou ainda entre diretamente na pauta do plenário, com a aprovação do requerimento de urgência já apresentado à Mesa Diretora. Mas não é fácil encontrar líderes que assumam a tarefa. Mesmo alguns que se declaram a favor da proposta não insistem no tema diante dos colegas. “A posição do partido é pelo fim das ajudas de custo, mas não tem como falar sempre no mesmo assunto nas reuniões, até porque há vários outros muito importantes para tratarmos”, afirmou o líder do PSDB, Bruno Araújo (PE). “O assunto não diz respeito ao governo, então deixo para cada bancada tomar conta, eu não posso entrar no debate, tenho que evitar assuntos que têm divergência porque falo em nome de todos os partidos da base”, desconversou o líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Os líderes do PSol, Ivan Valente (SP), e do PR, Lincoln Portela (MG), costumam cobrar mais o assunto diante das demais lideranças. “Assim como o projeto sobre o voto aberto para cassação de mandatos, tenho pedido para que o fim do 14º e do 15º entre na pauta do plenário com urgência, mas sempre adiam e meu partido não tem poder para convencê-los”, comenta Valente. “Só que quando é para votar alguma proposta de interesse dos grandes partidos, ela entra na pauta no mesmo dia em que é criada sem empecilhos.”

"Não tem motivo para não dar quórum e tenho certeza de que vai ser votado e aprovado, seguir para a CCJ e chegar ao plenário ainda este ano"
Afonso Florence (PT-BA), relator do projeto

Confira quais integrantes da Comissão de Finanças e Tributação estiveram no Congresso ontem e quais faltaram

Ausentes

Titulares
Alfredo Kaefer (PSDB-PR)
Antônio Andrade (PMDB-MG)
Edivaldo Holanda Junior (PTC-MA)
Osmar Júnior (PCdoB-PI)
Otoniel Lima (PRB-SP)
Pedro Eugênio (PT-PE)
Rui Palmeira (PSDB-AL)

Suplentes
Alberto Mourão (PSDB-SP)
João Lyra (PSD-AL)
João Paulo Cunha (PT-SP)
Manoel Junior (PMDB-PB)
Reginaldo Lopes (PT-MG)
Rogério Carvalho (PT-SE)

Presentes

Titulares
Aelton Freitas (PR-MG)
Afonso Florence (PT-BA)
Alexandre Leite (DEM-SP)
Andre Vargas (PT-PR)
Assis Carvalho (PT-PI)
Cláudio Puty (PT-PA)
Edivaldo Holanda Junior (PTC-MA)
Fernando Coelho Filho (PSB-PE)
Guilherme Campos (PSD-SP)
João Dado (PDT-SP)
João Magalhães (PMDB-MG)
José Guimarães (PT-CE)
José Humberto (PHS-MG)
José Priante (PMDB-PA)
Júlio Cesar (PSD-PI)
Júnior Coimbra (PMDB-TO)
Lucio Vieira Lima (PMDB-BA)
Manato (PDT-ES)
Pauderney Avelino (DEM-AM)
Pedro Novais (PMDB-MA)
Reinhold Stephanes (PSD-PR)
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Toninho Pinheiro (PP-MG)
Vaz de Lima (PSDB-SP)
Zequinha Marinho (PSC-PA)

Suplentes
André Figueiredo (PDT-CE)
Andre Moura (PSC-SE)
Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP)
Arnaldo Jardim (PPS-SP)
Carmen Zanotto (PPS-SC)
Celso Maldaner (PMDB-SC)
Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
Emiliano José (PT-BA)
Genecias Noronha (PMDB-CE)
Jairo Ataíde (DEM-MG)
Jerônimo Goergen (PP-RS)
João Maia (PR-RN)
Jose Stédile (PSB-RS)
Luciano Castro (PR-RR)
Luiz Carlos Setim (DEM-PR)
Luiz Pitiman (PMDB-DF)
Marcus Pestana (PSDB-MG)
Mauro Nazif (PSB-RO)
Mendonça Prado (DEM-SE)
Nelson Marchezan Junior (PSDB-RS)
Paulo Maluf (PP-SP)
Ricardo Berzoini (PT-SP)
Sérgio Brito (PSD-BA)
Zeca Dirceu (PT-PR)

Senador chama colegas de ladrões



Esse é corajoso, mas sincero!


Senador chama colegas de ladrões e provoca revolta na Casa.

"São dezenas ou centenas de parlamentares que estão aqui cheios de processos nas costas. Está escrito na testa: ladrão. Estão ricos porque roubaram do povo".
Foto: Senador chama colegas de ladrões e provoca revolta na Casa. http://glo.bo/RrcgpM 'São dezenas ou centenas de parlamentares que estão aqui cheios de processos nas costas. Está escrito na testa: ladrão. Estão ricos porque roubaram do povo', disse Mário Couto (PSDB-PA).

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Direito Objetivo e Direito Subjetivo



1. INTRODUÇÃO

A distinção entre direito objetivo e subjetivo é extremamente sutil na medida em que estes correspondem a dois aspectos inseparáveis: o direito objetivo nos permite fazer algo porque temos o direito subjetivo de fazê-lo. Realmente, como efeito primordial da norma jurídica está o de atribuir a um sujeito uma existência ou pretensão contra outro sujeito, sobre quem impende, por isso mesmo, uma obrigação, ou seja, um dever jurídico.  Mas à pretensão atribuída pelo Direito chama-se também direito. O significado da palavra não é o mesmo em ambos os casos: no primeiro, corresponde à norma da coexistência – ou direito em sentido objetivo; no segundo caso, corresponde à faculdade de pretender – ou direito em sentido subjetivo. 
Temos aqui uma plurivalência semântica, pois a palavra direito ora significa o direito positivo vigente, ou melhor, o ordenamento jurídico vigente em determinado Estado, ora significa o poder que as pessoas têm de fazer valer seus direitos individuais. No primeiro caso falamos de direito objetivo, enquanto no segundo, de direito subjetivo. Na verdade, como informa o professor Caio Mário, “direito subjetivo e direito objetivo são aspectos de conceito único, compreendendo a facultas e a norma os dois lados de um mesmo fenônemo, os dois ângulos de visão do jurídico. Um é o aspecto individual, outro o aspecto social”. 
A aparente dificuldade na conceituação do direito objetivo e do direito subjetivo decorre mais da inexistência em nossa língua, como aliás na maioria delas, de palavras diversas para explicar cada uma das visões do direito. Tal dificuldade não atinge, por exemplo, os ingleses e os alemães. De fato, na língua inglesa usa-se law para designar o direito objetivo, a norma agendi, e right para se referir ao direito subjetivo, a facultas agendi, enquanto os alemães, para se referirem ao direito objetivo, utilizam-se do vocábulo Recht e, para designar o direito subjetivo, usam a palavra Gesetz.   
Para Ruggiero o “direito objetivo pode definir-se como o complexo das regras impostas aos indivíduos nas suas relações externas, com caráter de universalidade, emanadas dos órgãos competentes segundo a constituição e tornadas obrigatórias mediante a coação”. O direito subjetivo é o poder que as pessoas têm de fazer valer seus direitos individuais.




2.     NOÇÃO DE DIREITO OBJETIVO 
2.1  Noção e Delimitação do Direito Objetivo 
O Direito objetivo é o conjunto de normas que o Estado mantém em vigor. É aquele proclamado como ordenamento jurídico e, portanto, fora do sujeito de direitos. Essas normas vêm através de sua fonte formal: a lei. O direito objetivo constitui uma entidade objetiva frente aos sujeitos de direitos, que se regem segundo ele.
Ao falar-se em direito objetivo cria-se desde já uma delimitação entre algo e outra coisa que se lhe contrapõe. Na verdade, ao se referir a direito objetivo, três grandes delimitações se procuram fazer no decorrer da história: a diferença entre o direito divino e o direito dos homens; a referência ao direito meramente escrito, constante das leis; ao direito com plena eficácia jurídica; e, finalmente, a delimitação entre o direito objetivo ( norma agendi ) e o direito subjetivo ( facultas agendi ). 
No princípio não havia plena consciência da diferença entre o direito divino e o direito dos homens. Todo direito era fruto do direito dos deuses, ou dos homens como seus mandatários. Tal unificação foi cedendo, já no pensamento grego, e cresceu e se desenvolveu com o cristianismo: umas leis são dos Césares, outras de Cristo, na expressão de São Jerônimo. 
Numa visão mais moderna, o direito positivo se apresenta como o conjunto das regras vigentes em um determinado sistema jurídico, emanadas de uma autoridade estatal. A este se contrapõe o direito natural, que deve inspirar o direito objetivo. Com essa visão temos Castro y Bravo, que o conceitua “como a ‘regulamentação organizadora de uma comunidade, legitimada por sua harmonia com o direito natural’. Se recolhem como características do direito positivo: seu caráter específico de eficácia, de organizador e criador de uma realidade social ( a ordem jurídica ), e, portanto, a necessidade de sua vigência ( validade jurídica ); sua subordinação em relação à lei eterna de Justiça, que exige seu próprio caráter de direito, isto é, a necessidade de sua legitimidade; por último, se indica na definição que se compreende dentro do conceito amplo de direito positivo a todos os atos que tenham tais características, sejam ou não normas jurídicas”. 

2.2  Direito Objetivo como Norma de Conduta
O direito objetivo, através das normas, determina a conduta que membros da sociedade devem observar nas relações sociais. Mas não devemos confundir a norma propriamente dita com a lei, pois a norma é o mandado, a ordem, com eficácia organizadora, enquanto a lei é o signo, o símbolo mediante o qual se manifesta a norma. Poderíamos dizer simbolicamente que a norma é a alma, enquanto a lei o corpo. 
Alguns autores, como Allara, reputam insuficiente conceituar-se o direito objetivo como norma de conduta, preferindo caracterizá-la como norma de organização dos poderes públicos. Uma visão intermediária do direito objetivo lhe atribui dois objetos: um interno e outro externo. O objeto interno consiste em que o direito objetivo disciplina a organização social, isto é, os órgãos e os poderes que exercem a autoridade pública, as relações entre as várias autoridades, enfim, a formação e a ação da máquina do Estado. Já o objeto externo se caracteriza pelo fato de que o direito objetivo regula a conduta externa dos homens nas sua relações recíprocas. 

2.2 A Ordem Jurídica
As normas, como as pessoas, não vivem isoladas, mas em conjunto, interagindo, o que faz surgir a ordem normativa ou ordem jurídica, que pode ser conceituada como um conjunto de normas vigentes em determinada sociedade.

2.3 A Origem do Direito Objetivo
Para alguns , a norma agendi ( direito objetivo ) teria sua origem no Estado, como preconizam Hegel, Ihering e toda a corrente alemã do direito positivo escrito; para outros, o direito objetivo resulta do espírito do povo; outros pensam que sua origem está no desenvolvimento dos fatos históricos, e temos aí os defensores da escola histórica do Direito; e, finalmente, ainda há os que defendem que o direito positivo tem sua origem na própria vida social, como os defensores da escola sociológica. 
Comentando a fonte do direito objetivo, e analisando a teoria que defende a exclusiva estatalidade do direito, Ruggiero afirma que todo direito positivo ( direito objetivo ) é estatal e exclusivamente estatal, visto que nenhum outro poder, fora do que é constitucionalmente soberano, pode ditar normas obrigatórias e muni-las de coação. Tal idéia se desenvolveu com a nova estrutura dos Estados modernos, com a conseqüente divisão dos poderes, e, portanto, com a atribuição ao poder legislativo do poder de criar o direito objetivo, bem como em conseqüência da codificação desenvolvida no século XIX.
Logo, segundo a ordem constitucional de cada Estado, cabe dizer qual o órgão com poder para criar e estabelecer o direito positivo. O princípio geral é o de que se a norma provém de um órgão incompetente, não é obrigatória e não constitui, portanto, Direito. 
 
2.4 O Direito Objetivo deve ser Justo
A noção de direito objetivo não pode estar divorciada da noção de justiça, expressa no velho ditado dar a cada um o que é seu. O direito objetivo, como conjunto de normas vigentes em determinado momento histórico numa determinada sociedade, deve ser necessariamente também a noção de justo nesse mesmo momento histórico e nessa sociedade. Como afirma Cossio, quando essa definição não coincide com as verdadeiras exigências da justiça, o direito deixa de ser o Direito, e o direito positivo, ao ser injusto, torna-se um falso direito. Não basta, portanto, que a norma positiva haja sido ditada por um poder formalmente competente, por exemplo, um Parlamento, mas sim, que seja justa, inspirada no bem comum. 

3.     DIREITO SUBJETIVO
3.1  Generalidades
Enquanto para muitos autores a distinção entre o Direito objetivo e o subjetivo era familiar aos romanos, Michel Villey defende a tese de que para o Direito Romano clássico, o seu de cada um era apenas o resultado da aplicação dos critérios da lei, “uma fração de coisas e não um poder sobre as coisas”. Para o ilustre professor da Universidade de Paris, “o jus é definido no Digesto como o que é justo ( id quod justum est ) ; aplicado ao indivíduo, a palavra designará a parte justa que lhe deverá ser atribuída ( jus suum cuique tribuendi ) em relação aos outros, neste trabalho de repartição ( tributio ) entre vários que é a arte do jurista”.
A idéia do direito como atributo da pessoa e que lhe proporciona benefício, somente teria sido claramente exposta, no século XIV, por Guilherme de Occam, teólogo e filósofo inglês, na polêmica que travou com o Papa João XXII, a propósito dos bens que se achavam em poder da Ordem Franciscana. Para o Sumo Pontífice, aqueles religiosos não eram proprietários das coisas, não obstante o uso que delas faziam há longo tempo. Em defesa dos franciscanos, Guilherme de Occam desenvolve a sua argumentação, na qual se distingue o simples uso por concessão e revogável, do verdadeiro direito, que não pode ser desfeito, salvo por motivo especial, hipótese em que o titular do direito poderia reclamá-lo em juízo. Occam teria, assim, considerado dois aspectos do direito individual: o poder de agir e a condição de reclamar em juízo.
No processo de fixação do conceito de direito subjetivo, foi importante a contribuição da escolástica espanhola, principalmente através de Suárez, que definiu como “o poder moral que se tem sobre uma coisa própria ou que de alguma maneira nos pertence”. Posteriormente, Hugo Grócio admitiu o novo conceito, também aceito por seus comentaristas Puffendorf, Feltmann, Thomasius, integrantes da Escola do Direito Natural. É reconhecida especial importância à adesão de Christian Wolf ( 1679-1754 ) ao novo conceito, sobretudo pela grande penetração de sua doutrina nas universidades européias. 

3.2  A Natureza do Direito Subjetivo – Teorias Principais 
1. Teoria da Vontade – Para Bernhard Windscheid ( 1817–1892 ), jurisconsulto alemão, o direito subjetivo “é o poder ou senhorio da vontade reconhecido pela ordem jurídica”. O maior crítico dessa teoria foi Hans Kelsen, que através de vários exemplos a refutou, demonstrando que a existência do direito subjetivo nem sempre depende da vontade de seu titular. Os incapazes, tanto os menores como os privados de razão e os ausentes, apesar de não possuírem vontade no sentido psicológico, têm direito subjetivo e os exercem através de seus representantes legais. Reconhecendo as críticas, Windscheid tentou salvar a sua teoria, esclarecendo que a vontade seria a da lei. Para Del Vecchio, a falha de Windscheid foi a de situar a vontade na pessoa do titular in concreto, enquanto que deveria considerar a vontade como simples potencialidade. A concepção do jusfilósofo italiano é uma variante da teoria de Windscheid, pois também inclui o elemento vontade ( querer ) em sua definição: “a faculdade de querer e de pretender, atribuída a um sujeito, à qual corresponde uma obrigação por parte dos outros.”
2. Teoria do Interesse – Rudolf  von Ihering ( 1818–1892 ), jurisconsulto alemão, centralizou a idéia do direito subjetivo no elemento interesse, afirmando que direito subjetivo seria “o interesse juridicamente protegido. As críticas feitas à teoria da vontade são repetidas aqui, com pequena variação. Os incapazes, não possuindo compreensão das coisas, não podem chegar a ter interesse e nem por isso ficam impedidos de gozar de certos direitos subjetivos. Considerado o elemento interesse sob o aspecto psicológico, é inegável que essa teoria já estaria implícita na da vontade, pois não é possível haver vontade sem interesse. Se tomarmos, porém, a palavra interesse não em caráter subjetivo, de acordo com o pensamento da pessoa, mas em seu aspecto objetivo, verificamos que a definição perde em muito a sua vulnerabilidade. O interesse, tomado não como “o meu”ou “o seu”interesse, mas tendo em vista os valores gerais da sociedade, não há dúvida de que é elemento integrante do direito subjetivo, de vez que este expressa sempre interesse de variada natureza, seja econômica, moral, artística etc. Muitos criticam ainda esta teoria, entendendo que o seu autor confundiu a finalidade do direito subjetivo com a natureza.
3. Teoria Eclética – Georg Jellinek ( 1851-1911 ), jurisconsulto e publicista alemão, considerou insuficientes as teorias anteriores, julgando-as incompletas. O direito subjetivo não seria apenas vontade, nem exclusivamente interesse, mas a reunião de ambos. O direito subjetivo seria “o bem ou interesse protegido pelo reconhecimento do poder da vontade”. As críticas feitas isoladamente à teoria da vontade e à do interesse foram acumuladas na presente.
4. Teoria de Duguit – Seguindo a linha de pensamento de Augusto Comte, que chegou a afirmar que “dia chegará em que nosso único direito será o direito de cumprir o nosso dever... Em que um Direito Positivo não admitirá títulos celestes e assim a idéia do direito subjetivo desaparecerá...”, Léon Duguit ( 1859-1928 ), jurista e filósofo francês, no seu propósito de demolir antigos conceitos consagrados pela tradição, negou a idéia do direito subjetivo, substituindo-o pelo conceito de função social. Para Duguit, o ordenamento jurídico se fundamenta não na proteção dos direitos individuais, mas na necessidade de manter a estrutura social, cabendo a cada indivíduo cumprir uma função social.
Teoria de Kelsen – Para o renomado jurista e filósofo austríaco, a função básica das normas jurídicas é a de impor o dever e, secundariamente, o poder de agir. O direito subjetivo não se distingue, em essência, do Direito objetivo. Afirmou Kelsen que “o direito subjetivo não é algo distinto do Direito objetivo, é o Direito objetivo mesmo, de vez que quando se dirige, com a consequência jurídica por ele estabelecida, contra um sujeito concreto, impõe um dever, e quando se coloca à disposição do mesmo, concede uma faculdade”. Por outro lado, reconheceu no direito subjetivo apenas um simples reflexo de um dever jurídico, “supérfluo do ponto de vista de uma descrição cientificamente exata da situação jurídica”. 

3.3  Classificação dos Direitos Subjetivos 
A primeira classificação sobre o direito subjetivo refere-se ao seu conteúdo, figurando, como divisão maior, a relativa do Direito Público e Direito Privado.
1. Direitos Subjetivos Públicos – O direito subjetivo público divide-se em direito de liberdade, de ação, de petição e direitos políticos. Em relação ao direito de liberdade, na legislação brasileira, como proteção fundamental, há os seguintes dispositivos:
a) Constituição Federal:  item II do art. 5º - “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” ( princípio denominado por norma de liberdade);
b) Código Penal: art. 146, que complementa o preceito constitucional – “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda – pena...” ( delito de constrangimento ilegal );
c) Constituição Federal: item LXVIII do art. 5º - “Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.”
O direito de ação consiste na possibilidade de se exigir do Estado, dentro das hipóteses previstas, a chamada prestação jurisdicional, isto é, que o Estado, através de seus órgãos competentes, tome conhecimento de determinado problema jurídico concreto, promovendo a aplicação do Direito.
O direito de petição refere-se à obtenção de informação administrativa sobre o assunto de interesse do requerente. A Constituição Federal, no item XXXIV, a, do art. 5º, prevê tal hipótese. Qualquer pessoa poderá requerer aos poderes públicos, com direito à resposta.
É através dos direitos políticos que os cidadãos participam do poder. Por eles os cidadãos podem exercer as funções públicas tanto no exercício da função executiva, legislativa ou judiciária. Incluem-se, nos direitos políticos, os direitos de votar e de ser votado. 
2. Direitos Subjetivos Privados – Sob o aspecto econômico, os direitos subjetivos privados dividem-se em patrimoniais e não-patrimoniais. Os primeiros possuem valor de ordem material, podendo ser apreciados pecuniariamente, o que não sucede com os não-patrimoniais, de natureza apenas moral. Os patrimoniais subdividem-se em reais, obrigacionais, sucessórios e intelectuais. Os direitos reais – jura in re – são aqueles que têm por objeto um bom móvel ou imóvel, como o domínio, usufruto, penhor. Os obrigacionais, também chamados de crédito ou pessoais, têm por objeto uma prestação pessoal, como ocorre no mútuo, contrato de trabalho etc. Sucessórios são os direitos que surgem em decorrência do falecimento de seu titular e são transmitidos aos seus herdeiros. Finalmente, os direitos intelectuais dizem respeito aos autores e inventores, que têm o privilégio de explorar a sua obra, com exclusão de outras pessoas.
Os  direitos subjetivos de caráter não-patrimonial desdobram-se em personalíssimos e familiais. Os primeiros são os direitos da pessoa em relação à sua vida, integridade corpórea e moral, nome etc. São também denominados inatos, porque tutelam o ser humano a partir do seu nascimento. Já os direitos familiais decorrem do vínculo familiar, como os existentes entre os cônjuges e seus filhos.  
A segunda classificação dos direitos subjetivos refere-se à sua eficácia. Dividem-se em absolutos e relativos, transmissíveis e não transmissíveis, principais e acessórios, renunciáveis e não renunciáveis.
1. Direitos absolutos e relativos – Nos direitos absolutos a coletividade figura como sujeito passivo da relação. São direitos que podem ser exigidos contra todos os membros da coletividade, por isso são chamados erga omnes. O direito de propriedade é um exemplo. Os relativos podem ser opostos apenas em relação a determinada pessoa ou pessoas, que participam da relação jurídica. Os direitos de crédito, de locação, os familiais são alguns exemplos de direitos que podem ser exigidos apenas contra determinada ou determinadas pessoas, com as quais o sujeito ativo mantém vínculo, seja decorrente de contrato, de ato ilícito ou por imposição legal.
2. Direitos transmissíveis e não-transmissíveis – Como os nomes indicam, os primeiros são aqueles direitos subjetivos que podem passar de um titular para outro, o que não ocorre com os não-transmissíveis, seja por absoluta impossibilidade de fato ou por impossibilidade legal. Os direitos personalíssimos são sempre direitos não-transmissíveis, enquanto os direitos reais, em princípio, são transmissíveis.
3. Direitos principais e acessórios – Os primeiros são independentes, autônomos, enquanto que os direitos acessórios estão na dependência do principal, não possuindo existência autônoma. No contrato de mútuo, o direito ao capital é o principal e o direito aos juros é acessório.
4. Direitos renunciáveis e não renunciáveis – Os direitos renunciáveis são aqueles que o sujeito ativo, por ato de vontade, pode deixar a condição de titular do direito sem a intenção de transferi-lo a outrem, enquanto que nos irrenunciáveis tal fato é impraticável, como se dá com os direitos personalíssimos. 

3.4  Direito Subjetivo e Dever Jurídico
Só há dever jurídico quando há possibilidade de violação da regra social. Dever jurídico é a conduta exigida. É imposição que pode decorrer diretamente de uma norma de caráter geral, como a que estabelece a obrigatoriedade do pagamento de impostos, ou, indiretamente, pela ocorrência de certos fatos jurídicos de diferentes espécies: a prática de um ilícito civil, que gera o dever jurídico de indenização; um contrato, pelo qual se contraem obrigações; declaração unilateral de vontade, em que se faz uma determinada promessa. Em todos esses exemplos o dever jurídico deriva, em última análise, do ordenamento jurídico, que prevê consequências para essa variada forma de comércio jurídico. Devemos dizer, juntamente com Recaséns Siches, que “o dever jurídico se baseia pura e exclusivamente na norma vigente”. Consiste na exigência que o Direito objetivo faz a determinado sujeito para que assuma uma conduta em favor de alguém. 
3.5  Origem e extinção do Dever Jurídico 
Quanto ao conceito do dever jurídico, a doutrina registra duas tendências, uma que o identifica como dever moral e a outra que o situa como realidade de natureza estritamente normativa. A primeira corrente, a mais antiga, é difundida por correntes ligadas ao jusnaturalismo. Alves da Silva, entre nós, defende essa idéia: “obrigação moral absoluta de fazer ou omitir algum ato, conforme as exigências das relações sociais”, “...é obrigação moral ou necessidade moral, da qual só é capaz o ente moral”. O espanhol Miguel Sancho Izquierdo também segue essa orientação: “necessidade moral que o homem tem de cumprir a ordem jurídica” e também é neste sentido a definição de Rodrígues de Cepeda, citada por Izquierdo: “necessidade moral de fazer ou omitir o necessário para a existência da ordem social”. 
A tendência moderna, contudo, é a comandada por Hans Kelsen, que identifica o dever jurídico com as expressões normativas do Direito objetivo: “o dever jurídico não é mais que a individualização, a particularização de uma norma jurídica aplicada a um sujeito”, “um indivíduo tem o dever de se conduzir de determinada maneira quando esta conduta é prescrita pela ordem social”. Com muita ênfase, Recaséns Siches expressa essa mesma opinião: “o dever jurídico se funda única e exclusivamente na existência de uma norma de Direito Positivo que o impõe: é uma entidade pertencente estritamente ao mundo jurídico”. 
A doutrina moderna, sobretudo através de Eduardo García Máynes, desenvolveu a teoria segundo a qual o sujeito do dever jurídico possui também o direito subjetivo de cumprir a sua obrigação, isto é, de não ser impedido de dar, fazer ou não-fazer algo em favor do sujeito ativo da relação jurídica. 
O dever jurídico nasce e se modifica em decorrência de um fato jurídico lato sensu ou por imposição legal, identicamente ao que se sucede com o direito subjetivo. Normalmente a extinção do dever jurídico se dá com o cumprimento da obrigação, mas pode ocorrer também por força de um fato jurídico lato sensu ou determinação da lei. 

3.6  Espécies de Dever Jurídico 
Em função de certas características que pode apresentar, o dever jurídico classifica-se de acordo com os seguintes critérios:
1. Dever Jurídico Contratual e Extracontratual – Contratual é o dever que decorre de um acordo de vontades, cujos efeitos são regulados em lei. As partes, atendendo aos interesses, vinculam-se através de contrato, onde definem seus direitos e deveres. O dever jurídico contratual pode existir a partir da celebração do contrato ou do prazo determinado pelas partes, podendo ficar sujeito à condição suspensiva ou resolutiva. O motivo determinante de um acordo de vontade é a fixação de direitos e deveres. Normalmente os contratos estabelecem uma cláusula penal, para a hipótese de violação do acordo. O descumprimento de um dever jurídico ocasiona, então, o nascimento de um outro dever jurídico, qual seja o de atender à consequência prevista na cláusula penal. O dever jurídico extracontratual, também denominado obrigação aquiliana, tem por origem uma norma jurídica. O dano em um veículo, por exemplo, provocado por um abalroamento, gera direito e de ver para as partes envolvidas.
2. Dever Jurídico Positivo e Negativo – Dever jurídico positivo é aquele que impõe ao sujeito passivo da relação uma obrigação de dar ou fazer, ao passo que o dever jurídico negativo exige sempre uma omissão. A generalidade do Direito Positivo cria deveres jurídicos comissivos, enquanto que o Direito Penal, em sua quase totalidade, impõe deveres omissivos.
3. Dever Jurídico Permanente e Transitório – Nos deveres jurídicos permanentes a obrigação não se esgota com o seu cumprimento. Há relações jurídicas que irradiam permanentemente deveres jurídicos. Os deveres jurídico-penais, por exemplo, são ininterruptos. Transitórios ou instantâneos são os que se extinguem com o cumprimento da obrigação. O pagamento de uma dívida, v.g., faz cessar o dever jurídico do seu titular. 
  
3.7  Elementos do Direito Subjetivo
Os elementos fundamentais do direito subjetivo são: o sujeito, o objeto, a relação jurídica e a proteção jurisdicional.
O Sujeito - Em sentido estrito, “sujeito” é o titular de um direito subjetivo. É a pessoa a quem pertence ( ou cabe ) o direito. É o proprietário no direito de propriedade, o credor nas obrigações, o Estado na cobrança de tributos, o requerente nas ações judiciais. O titular do direito não é o único “sujeito” na relação jurídica. Toda a relação jurídica é intersubjetiva, supõe, pelo menos, dois sujeitos: um sujeito ativo, que é o titular do direito, a pessoa que pode exigir a prestação; um sujeito passivo, que é a pessoa obrigada a realizar a prestação  ( positiva ou negativa ).
Sujeito de direito e pessoa - O sujeito dos direitos e dos deveres jurídicos chama-se pessoa, escreve Coviello. “Pessoas são todos os seres capazes de adquirir direitos e contrair obrigações”, define o Código Civil argentino. O direito admite duas espécies fundamentais de pessoas: físicas e jurídicas. “Pessoas fisicas” são os homens considerados individualmente. “Pessoas jurídicas” são as instituições ou entidades, capazes de ter direitos e obrigações como as associações, fundações, sociedades civis e comerciais, autarquias e o próprio Estado.
Ao conceito de “sujeito passivo” ligam-se as noções de “dever jurídico” e de “prestação” que constituem importantes categorias jurídicas. O sujeito passivo tem o “dever jurídico” de observar determinada conduta, que pode consistir em um ato ou abstenção. O dever jurídico distingue-se do moral, porque este não é exigível e aquele é. O dever jurídico se caracteriza por sua exigibilidade. Ao dever jurídico do sujeito passivo corresponde sempre a exigibilidade ou poder de exigir do sujeito ativo. 
Objeto - O vínculo existente na relação jurídica está sempre em função de um objeto. As relações jurídicas são estabelecidas visando a um fim específico. A relação jurídica criada pelo contrato de compra e venda, por exemplo, tem por objeto a entrega da coisa, enquanto que no contrato de trabalho o objeto é a realização do trabalho. É sobre o objeto que recai a exigência do sujeito ativo e o dever do sujeito passivo. 
Ahrens, Vanni e Coviello, entre outros juristas, distinguem objeto de conteúdo da relação jurídica. O objeto, também denominado objeto imediato, é a coisa em que recai o poder do sujeito ativo, enquanto que conteúdo, ou objeto mediato, é o fim que o direito garante. O objeto é o meio para se atingir o fim, enquanto que o fim garantido ao sujeito ativo denomina-se conteúdo. Flóscolo da Nóbrega, com clareza, exemplifica: “na propriedade, o conteúdo é a utilização plena da coisa, o objeto é a coisa em si; na hipoteca, o objeto é a coisa, o conteúdo é a garantia à dívida; na empreitada, o conteúdo é a realização da obra, o objeto é prestação do trabalho; numa sociedade comercial, o conteúdo são os lucros procurados, o objeto é o ramo de negócio explorado.” 
O objeto da relação jurídica recai sempre sobre um bem. Em função deste, a relação pode ser patrimonial ou não-patrimonial, conforme apresente um valor pecuniário ou não. Há autores que identificam o elemento econômico em toda espécie de relação jurídica, sob o fundamento de que a violação do direito alheio provoca uma indenização em dinheiro. Conforme observa Icílio Vanni, há um equívoco porque na hipótese de danos morais, o ressarcimento em moeda se apresenta apenas como um sucedâneo, uma compensação que tem lugar apenas quando a ofensa à vítima acarreta-lhe prejuízo, direta ou indiretamente, em seus interesses econômicos. A indenização não é medida pelo valor do bem ofendido, mas pelas consequências decorrentes da lesão ao direito.
A doutrina registra, com muita divergência, que o poder jurídico de uma pessoa recai sobre:
a) a própria pessoa ;
b) outras pessoas;
c) coisas.
Quanto à possibilidade de o poder jurídico incidir sobre a própria pessoa, alguns autores a rejeitam, sob a alegação de que não é possível, do ponto de vista da lógica jurídica, uma pessoa ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e objeto da relação. Tendo em vista o progresso da ciência, que tornou possíveis conquistas extraordinárias, como a de um ser vivo ceder a outro um órgão vital, parte de seu corpo, em face do elevado alcance social e moral que esse fato apresenta, entendemos que a Ciência do Direito não pode recusar essa possibilidade, devendo, sim, a lógica jurídica render-se à lógica da vida. 
 A maior parte da doutrina revela-se contrária quanto à possibilidade de o poder jurídico recair sobre outra pessoa, destacando-se, nesse sentido, as opiniões de Luis Legaz y Lacambra e Luis Recásens Siches. Entre nós, Miguel Reale admite que uma pessoa possa ser objeto de direito, sob a justificativa de que “tudo está em considerar a palavra 'objeto' apenas no sentido lógico, ou seja, como a razão em virtude da qual o vínculo se estabelece. Assim a lei civil atribui ao pai uma soma de poderes e deveres quanto à pessoa do filho menor, que é a razão do instituto do pátrio poder”.
A Relação Jurídica – Seguindo a lição de Del Vecchio, podemos definir a relação jurídica como o vínculo entre pessoas, por força do qual uma pode pretender um bem a que outra é obrigada. Estão aí contidos os elementos fundamentais da estrutura de um direito subjetivo:  ele é essencialmente uma relação jurídica ou um vínculo entre uma pessoa ( sujeito ativo ), que pode pretender ou exigir um bem, e outra pessoa ( sujeito passivo ), que é obrigada a uma prestação ( ato ou abstenção ). 
Pode-se afirmar que a doutrina das relações jurídicas teve início a partir dos estudos formulados por Savigny no século passado. De uma forma clara e precisa, o jurista alemão definiu relação jurídica como “um vínculo entre pessoas, em virtude do qual uma delas pode pretender algo a que a outra está obrigada”. Em seu entendimento, toda relação jurídica apresenta um elemento material, constituído pela relação social, e outro formal, que é a determinação jurídica do fato, mediante regras do Direito. 
Fatos jurídicos, na famosa definição de Savigny, são os acontecimentos em virtude dos quais as relações de direito nascem, transformam-se e terminam. Esse o sentido amplo do termo. Nesse caso, fato jurídico abrange:
a) fatores naturais, alheios à vontade humana, ou para os quais a vontade concorre apenas indiretamente, como o nascimento, a morte, a inundação etc;
b) ações humanas, que podem ser de duas espécies: atos jurídicos, como o contrato, o casamento, o testamento, que produzem efeitos jurídicos de acordo com a vontade do agente; atos ilícitos, como a agressão, o excesso de velocidade, o furto etc., que produzem efeitos jurídicos independentemente da vontade do agente. 
Além da concepção de Savigny, para quem a relação jurídica é sempre um vínculo entre pessoas, há outras tendências doutrinárias. Para Cicala, por exemplo, a relação não se opera entre os sujeitos, mas entre estes e a norma jurídica, pois é a força desta que se estabelece o liame. A norma jurídica seria, assim, a mediadora entre as partes. Alguns juristas defenderam a tese de que a relação jurídica seria um nexo entre a pessoa e o objeto. Este foi o ponto de vista defendido por Clóvis Beviláqua: “Relação de direito é o laço que, sob a garantia da ordem jurídica, submete o objeto ao sujeito”. Modernamente esta concepção foi abandonada, principalmente em face da teoria dos sujeitos, formulada por Roguim. As dúvidas que havia em relação ao direito de propriedade foram dissipadas pela exposição desse autor. A relação jurídica nessa espécie de direito não seria entre o proprietário e a coisa, mas entre aquele e a coletividade de pessoas, que teria o dever jurídico de respeitar o direito subjetivo.
Na concepção de Hans Kelsen, chefe da corrente normativista, a relação jurídica não consiste em um vínculo entre pessoas, mas entre dois fatos enlaçados por normas jurídicas. Como exemplo, figurou a hipótese de uma relação entre um credor e um devedor, afirmando que a relação jurídica “significa que uma determinada conduta do credor e uma determinada conduta do devedor estão enlaçadas de um modo específico em uma norma de direito...”
No plano filosófico, há a indagação se a regra de Direito cria a relação jurídica ou se esta preexiste à determinação jurídica. Para a corrente jusnaturalista, o Direito apenas reconhece a existência da relação jurídica e lhe dá proteção, enquanto o positivismo assinala a existência da relação jurídica somente a partir da disciplina normativa. 
Proteção Jurisdicional – O direito subjetivo ou a relação jurídica são tutelados pelo Estado, através de uma proteção especial, representada, de uma forma geral, pelo ordenamento jurídico e, particularmente, pela “sanção”. Essa proteção jurídica pode ser conceituada numa perspectiva objetiva ou subjetiva. 
Objetivamente, proteção é a garantia assegurada ao direito pela possível ou efetiva intervenção da força de que dispõe a sociedade. Subjetivamente, a proteção jurídica se traduz pelo poder conferido ao titular de exigir de outrem o respeito ao seu direito. 
A proteção é representada fundamentalmente pela sanção, que pode ser definida como a “consequência jurídica que atinge o sujeito passivo pelo não cumprimento da sua prestação”, ou, na formulação de Eduardo García Máynes “Sanção é a consequência jurídica que o não cumprimento de um dever produz em relação ao obrigado”. A sanção é uma “consequência”. Pressupõe um “dever”, que não foi cumprido. 
A “sanção” não se confunde com a “coação”. “Sanção” é a consequência da não prestação, estabelecida pela ordem jurídica. “Coação  é a aplicação forçada da sanção”. No caso do não cumprimento de um contrato, a “sanção” mais freqüente é a multa contratual. Se a parte culpada se recusar a pagá-la, pode ser obrigada a fazê-lo por via judicial, que pode chegar à penhora de seus bens: é a coação. 
Com maior frequência, a sanção atua apenas psicologicamente como possibilidade ou ameaça. A coação como execução forçada só se realiza excepcionalmente. A coação é um meio empregado em última instância, quando a lei foi desrespeitada. 
A ação judicial  - ou, na linguagem jurídica usual, simplesmente, a ação -  é o meio normal de se promover concretamente a aplicação da garantia que a ordem jurídica assegura aos direitos subjetivos. 
O Direito Constitucional moderno faz da ação um direito público subjetivo: o direito de ação ou direito à jurisdição. A esse direito corresponde, da parte do Estado, o dever jurídico de julgar, dever jurisdicional, isto é, de dizer o direito, dar sentença. A Constituição brasileira assegura esse direito nos termos seguintes: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” ( art. 5º, XXXV ). 
A Declaração Universal dos Direitos do Homem consagra igualmente o direito de ação: “Todo homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela Constituição ou pela lei” ( art. VIII ).
O direito de ação se apresenta  sob suas modalidades fundamentais: ação civil, ação penal. Em ambas temos o mesmo instituto jurídico, que é o direito de invocar a prestação jurisdicional do Estado. 
A ação penal é o direito de invocar o Poder Judiciário para aplicar norma de direito penal.
Ação civil é o mesmo direito relativamente à aplicação das normas do direito civil, comercial, trabalhista ou quaisquer outras estranhas ao direito penal. 

4.     CONCLUSÃO 
O Direito objetivo ( norma agendi ) é o conjunto de normas que o Estado mantém em vigor. É proclamado como o ordenamento jurídico e está fora do sujeito de direitos. O Direito objetivo, através de normas, determina a conduta que os membros da sociedade devem observar nas relações sociais. Mas, as normas, tal qual as pessoas, não vivem isoladamente, e como conseqüência temos um conjunto normativo que dá origem ao denominado ordenamento jurídico ou ordem jurídica. O Direito objetivo provém de um órgão estatal competente ( legislativo ). Mas, apesar disso, a noção de direito objetivo está intimamente ligada à noção do justo. De fato, o direito objetivo deve ser justo, o que se expressa no princípio: dar a cada um o que é seu. 
Para alguns , a norma agendi ( direito objetivo ) teria sua origem no Estado, como preconizam Hegel, Ihering e toda a corrente alemã do direito positivo escrito; para outros, o direito objetivo resulta do espírito do povo; outros pensam que sua origem está no desenvolvimento dos fatos históricos, e temos aí os defensores da escola histórica do Direito; e, finalmente, ainda há os que defendem que o direito positivo tem sua origem na própria vida social, como os defensores da escola sociológica. 
Doutrinariamente várias são as correntes que procuram fundamentar o direito subjetivo ( facultas agendi ). Dentre elas se destacam;
a) as doutrinas negadoras do direito subjetivo, como as de Duguit e Kelsen;
b) a doutrina da vontade, formulada por Windscheid, e considerada “clássica”, por alguns autores;
c) a doutrina do interesse ou do interesse protegido, proposta por Ihering;
d) as doutrinas mistas ou ecléticas, que procuram explicar  o direito subjetivo pela combinação dos dois elementos “vontade” e “interesse” como fazem Jellinek, Michoud, Ferrara e outros. 
O direito subjetivo apresenta como suas características ser um poder e um poder concreto. 
O direito subjetivo é a possibilidade de atuação legal, isto é, uma faculdade ou um conjunto de faculdades vinculadas à decisão do seu titular, na defesa de seus interesses, dentro do autorizado pelas normas e nos limites do exercício fundados na boa-fé.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 25ª. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais Ltda, 1999.  
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 17ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1999. 
OLIVEIRA, J.M.Leoni Lopes de. Introdução ao Direito Civil. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2001.

Autoria: Luciano Magno de Oliveira